明日を目指して

Apesar das minhas fragilidades, avanço.”- Lya Luft

segunda-feira, 5 de maio de 2014

~ (re)encontro.

''Não sabia ao certo como agir. Ficamos alguns minutos - tímidos - trocando olhares que, agora, entendo que diziam mais do que as palavras trocadas. ´M!!É você, mano?´ ele disse sorrindo largamente. Eu, acanhando, respondi 'R! Claro! Há quanto tempo, mêw!'. Não sabíamos ao certo se deveríamos nos abraçar, apertar as mãos, ou se deveríamos apenas eternizar aquele tímido reencontro.
Por via das dúvidas estiquei a mão que fora apertada fortemente e um segundo depois foi empurrada para a cintura de R. Seus braços se esticaram, e fui abraçado. É engraçado quando recebemos esses abraços tão intensos e que não esperávamos receber. R me abraçou e senti sua barba, não mais pueril, roçar meu pescoço, seu corpo ligado ao meu emitia aquele desejo-calor-tesão que ecoava pelos meus braços que apenas, mais fortemente, foram apenas capazes de empurrar aquele corpo ao meu. Por um segundo aquela intensidade me levou a tocar seu pescoço, sutilmente, e pude transmitir algo como 'saudades, também.' Timidamente nós afastamos e iniciamos aquele eterno papo de nossa-como-você-cresceu; nossa-há-quanto-tempo-não-nos-viamos?... Não fazia tanto tempo que não o via. Talvez um ano, um pouco menos. R foi daqueles amigos que marcaram a infância. Sempre alegre, carismático, engraçado, popular, era o típico menino que todos adoravam. Tinha um gênio difícil. Por alguns anos íamos-e-voltávamos na mesma condução escolar. Foram inúmeras risadas, aventuras, segredos, broncas. Por algum tempo eu o invejava. Não era tão 'em forma' como ele, não era tão aberto, muito menos sociável. Entretanto ele tinha em mim um parceiro para compartilhar suas presepadas, para dar-lhe bronca quando necessário. Dividíamos segredos em um caderno que acreditávamos ter poderes. Desde novo tentei expressar por meio das palavras aquilo que ecoava em meu coração. R era muito inteligente e estudava em um colégio muito rígido. Ele deveria estudar o dobro para passar em no exame admissional do colégio militar. Era como uma tradição na família. O primeiro irmão mais velho passou, assim como o segundo, o terceiro...E R não poderia ficar para trás. Eram incontáveis horas de estudo, cursinhos e aulas após o horário normal do colégio. Por isso R teve que sair da condução escolar. Lembro-me vagamente da tristeza que foi perder um parceiro de aventuras diárias. Aquele que, de certa forma, era um ombro dentro da minha jovem insegurança. Pouco tempo passou, resolvi iniciar novos desafios, jogar vôlei era um sonho e decidi começar. No primeiro dia de treino deveria retornar sozinho de ônibus para casa. Era uma grande vitória para um pré-adolescente. Sentia-me maior do que eu realmente era. E nessa noite que datava a vitória da minha independência adolescente, reencontrei R. Depois dos acanhados diálogos entramos no ônibus, ele me ensinou sobre as linhas, onde deveria descer, o que deveria fazer...R marcara mais uma vez minha vida: quando pensei que estaria sozinho desbravando o primeiro passo para minha independência, ele esteve presente
Não recordo sobre o que dialogamos dentro do ônibus, mas lembro-me muito bem dele enfatizando o quanto eu havia crescido, como estava magro e bonito. Tímido, disse que não era para tanto mas que estaria perto do que ele era - ou do que ele se tornara: aquele típico adolescente com sorriso estampado, com curvas e peitoral forte. Rimos e nos despedimos rapidamente. Quase perdi o ponto que deveria descer. Lembro-me de impulsivamente ter dado uma espécie de abraço-beijo-no-rosto. E sem olhar para trás desci do ônibus e pela janela ele sorria - aquele sorriso largo-levemente-danado-safado que dizia tanto
Eu e R nunca mais nos (re)encontramos. Os anos se passaram, não sei se cheguei a me tornar aquele adolescente ideal que costumávamos idealizar. Mas adquiri nesse período as melhores vivências, tive os melhores amigos que me acompanham até hoje. Sobre R, gostaria de saber dele. Gostaria de vê-lo. Gostaria de mais uma vez abraça-lo. Só que desta vez sem medo. Gostaria de saber em que tipo de adulto ele se tornou. Eu? Ah...devo ter me tornado aquele tipo de adulto que (re)vive as lembranças com uma nostalgia que aperta o coração. Devo ter me tornado aquele tipo de adulto que escreve não só para transmitir o que se passa, mas para eternizar, em palavras, o sentimento que pulsa, pulsa, pulsa e ressoa pelo âmago da vida. 
Talvez hoje se reencontrasse R, iria, rapidamente, dizer 'diga algo!diga que também teve saudades...'. Não quero desistir dessa fantasia, R. Quero poder olhar em seus olhos mais uma vez e dizer que gostaria de ter te acompanhado. Fantasio em inúmeros episódios que poderiam ter construído sua vida. Um dia espero abraçar-te mais uma vez e pedirei - delicadamente - ao pé de seus ouvidos que você me conte tudo. Contarei tudo. Seremos o tudo."

Ao som de Say something - Boyce Avenue and Carly Rose cover

segunda-feira, 31 de março de 2014

~ uma carta para G (2)

'' Para G, 

Boa noite, G. Tudo bem? Já há alguns meses que não escrevo. Me desculpe. Tudo anda meio corrido. Novos desafios surgiram. Reconhecimento de trabalhos árduos. Entretanto todo reconhecimento chega com uma carga de novas responsabilidades. Estou aprendendo a lidar com tudo. 
Há alguns dias atrás encontrei a seguinte frase ´Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem'. Do querido Caio...O Caio, G. Caio Fernando Abreu! rs...Estive refletindo sobre o impacto que esta frase tem na minha vida. Ela é muito palpável, você não acha? Quantas vezes encontramos sentido na vida e no que fazemos, e do nada, basta termos uma decepção - a mais tola possível - e sentimos a perda. Perdemos os sentidos. Sentidos no sentido mais amplo! Perdemos o tato, o paladar, a audição e muitas vezes a fala é regida por incontáveis soluços desesperados. Sim, desesperados. Soluços que são manifestações dos nossos gritos. Gritos desesperados. Gritos mesclados com falta de ar. Com olhos inchados. Com lágrimas que percorrem não apenas nosso rosto, mas tudo que somos. Falando assim lembrei de um filme - de cor azul agradável - em que refleti sobre o choro. Sobre como somos quando sofremos. A gente nunca se olha quando estamos em tal estado. Você já parou para pensar nisso? Isso também é perda, não é? Perdemos a oportunidade de analisar o quão patético pode ser aquela cena ou deixamos de ver a sensibilidade que temos. 
Tenho pensado muito sobre a sensibilidade também. Porque é completamente natural perdê-la. Eu tenho altos e baixos. Crises eternas por não ter tanta sensibilidade. E no fundo sei que é normal encontrá-la lá dentro. Só que...sabe de uma coisa? Gosto de perder tudo isso. Perder o controle, perder os sentidos. No final sabemos exatamente onde encontrá-los. A gente perde, mas no fundo apenas escondemos todos esses sentidos em algum lugar secreto. Só que nunca é secreto, secreto. Sabe? A gente omite por proteção. Ou talvez por fuga. Ou seja lá qual for o motivo. O que importa é compreendermos o eterno ciclo de perder e encontrar. Afinal é tão natural, não é? Caio já dizia isso. E eu concordo com ele. 
Sei que esta carta parece sem nexo, mas talvez o que eu queira dizer, G, é que quando te perdi, perdi todos esses sentidos. Não era possível mais te tocar, ouvir sua voz, sentir seu cheiro e e muito menos sentir o gosto da tua boca. Aqueles lábios que sempre tocavam minhas bochechas. E era tão feliz quando todos esses sentidos construíam nosso dia-a-dia. 
Você sente o mesmo, G? Será que tive algum sentido para sua vida?
Sempre tento não ser dramático-triste-insano-depressivo-ouseiláoque. Só que deixo o lápis me levar. Deixo minhas emoções falarem. E no final, a conclusão é sempre a mesma: a saudade domina todo o meu ser. 
Assim como Caio disse, acredito que naturalmente um dia 're'encontrarei todos esses sentidos. Quando eu puder, por um minuto apenas, olhar-te nos olhos, com um breve sorriso, poderei recarregar todos os sentidos que se foram quando te perdi. Afinal, é natural, não é?
Para sempre seu,
M. ''