"Às vezes me espanto e me pergunto como pudemos a tal ponto mergulhar naquilo que estava acontecendo, sem a menor tentativa de resistência. Não porque aquilo fosse terrível, ou porque nos marcasse profundamente ou nos dilacerasse - e talvez tenha sido terrível, sim, é possível, talvez tenha nos marcado profundamente ou nos dilacerado - a verdade é que ainda hesito em dar um nome àquilo que ficou, depois de tudo. Porque alguma coisa ficou. E foi essa coisa que me levou há pouco até a janela onde percebi que chovia e, difusamente, através das gotas de chuva, fiquei vendo uma roda-gigante. Absurdamente. Uma roda-gigante. Porque não se vive mais em lugares onde existam rodas-gigantes. Porque também as rodas-gigantes talvez nem existam mais. Mas foram essas duas coisas - a chuva e a roda-gigante -, foram essas duas coisas que de repente fizeram com que algum mecanismo se desarticulasse dentro de mim para que eu não conseguisse ultrapassar aquele momento.
De repente, eu não consegui ir adiante. E precisava: sempre se precisa ir além de qualquer palavra ou de qualquer gesto. Mas de repente não havia depois: eu estava parado à beira da janela enquanto lembranças obscuras começavam a se desenrolar. Era dessas lembranças que eu queria te dizer. Tentei organizá-las, imaginando que construindo uma organização conseguisse, de certa forma, amenizar o que acontecia, e que eu não sabia se terminaria amargamente - tentei organizá-las para evitar o amargo, digamos assim. Então tentei dar uma ordem cronológica aos fatos: primeiro, quando e como nos conhecemos - logo a seguir, a maneira como esse conhecimento se desenrolou até chegar no ponto em que eu queria, e que era o fim, embora até hoje eu me pergunte se foi realmente um fim. Mas não consegui. Não era possível organizar aqueles fatos, assim como não era possível evitar por mais tempo uma onda que crescia, barrando todos os outros gestos e todos os outros pensamentos (...)" - Caio Fernando Abreu.
Ai vai um trecho de um conto do Caio F. para atualizar o blog!
:)
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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
~ kind a...
"Às vezes me lembro dele. Sem rancor, sem saudade, sem tristeza. Sem nenhum sentimento especial a não ser a certeza de que, afinal, o tempo passou. Nunca mais o vi, depois que foi embora. Nunca nos escrevemos. Não havia mesmo o que dizer. ou havia? Ah, como não sei responder as minhas próprias perguntas! É possível que, no fundo, sempre restem algumas coisas para serem ditas. É possível também que o afastamento total só aconteça quando não mais restam essas coisas e a gente continua a buscar, a investigar — e principalmente a fingir. Fingir que encontra. Acho que, se tornasse a vê-lo, custaria a reconhecê-lo." (caio f.)
- ao som de: somebody to love- Glee cast version.
quarta-feira, 2 de junho de 2010
~ you learn...
é bem isso, não é?!
- uma pausa nas minhas histórias para compartilhar este texto lindo do maravilhoso Caio Fernando Abreu.
- foto: vista do meu apê, numa noite fria, cheia de xícaras de chá+damien+lembranças depois de uma visita ótima.
- #dica
- ao som de: Alanis Morissette, you learn
domingo, 7 de março de 2010
~ será...?
“Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem”.
caio F.
eu estou me encontrando de novo. thanks.
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
.
''Sonhei que você sonhava comigo. Ou foi o contrário? Seja como for, pouco importa: não me desperte, por favor, não te desperto.'' (Caio F. Abreu)
~ hontou ni yume datta no?
~ hontou ni yume datta no?
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
~ amigos.

''Para mim companheirismo e lealdade são meio sinônimos de felicidade. Meus amigos são muito fortes e profundos, são amigos de fé e para quem eu posso telefonar às 5 da manha e dizer. Olha:eu estou querendo me matar, o que eu faço?Eles me dão liberdade para isso e vice-versa, não tenho relações rasas, quer dizer, tenho, porque todo mundo tem, mas sempre procuro aprofundar. E isso é felicidade, você poder contar com os outros e se sentir cuidado, protegido. Dei esse exemplo meio barra-pesada de me matar...Esquece, também posso ligar para ver o sol nascer no Ibirapuera às 5 da manhã. Já fiz isso, inclusive.'' Caio Fernando Abreu (trecho do livro ''Para sempre teu Caio F.'')
Não tenho nada a comentar, porque ele disse tudo. E eu sinto falta desses meus amigos, de poder ligar qualquer hora e falar ''vamos sair...eu to com saudade'' ou só de ligar para falar besteira durante horas, horas, horas. E fazer sons bizarros, né filhotinho?!
Foto do filme ''kimi no tomodachi'' (seu amigo). Com o amor da minha vida Fukushi lindo Seiji! kkk e a atriz Anna. :) quero muito o dvd desse filme (>____<)""
Ouvindo: AC/DC, Money Talks
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
~ .

"Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais -por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia –qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.Eu prefiro viver a ilusão do quase, quando estou "quase" certa que desistindo naquele momento vou levar comigo uma coisa bonita. Quando eu "quase" tenho certeza que insistir naquilo vai me fazer sofrer, que insistir em algo ou alguém pode não terminar da melhor maneira, que pode não ser do jeito que eu queria que fosse, eu jogo tudo pro alto, sem arrependimentos futuros! Eu prefiro viver com a incerteza de poder ter dado certo, que com a certeza de ter acabado em dor. Talvez loucura, medo, eu diria covardia, loucura quem sabe!" - (caio fernando abreu, daqui: http://caio-fernando-abreu.blogspot.com )
Às vezes a gente precisa desse sofrimento, certo?
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
~ just crawling back home again...
''De todos aqueles dias seguintes, só guardei três gostos na boca – de vodca, de lágrima e de café. O de vodca, sem água nem limão ou suco de laranja, vodca pura, transparente, meio viscosa, durante as noites em que chegava em casa e, sem Ana, sentava no sofá para beber no último copo de cristal que sobrara de uma briga. O gosto de lágrima chegava nas madrugadas, quando conseguia me arrastar da sala para o quarto e me jogava na cama grande, sem Ana, cujos lençóis não troquei durante muito tempo porque ainda guardavam o cheiro dela, e então me batia e gemia arranhando as paredes com as unhas, abraçava os travesseiros como se fossem o corpo dela, e chorava e chorava e chorava até dormir sonos de pedra sem sonhos. O gosto de café sem açúcar acompanhava manhãs de ressaca e tardes na agência, entre textos de publicidade e sustos a cada vez que o telefone tocava. Porque no meio dos restos dos gostos de vodca, lágrima e café, entre as pontadas na cabeça, o nojo na boca do estômago e os olhos inchados, principalmente às sextas-feiras, pouco antes de desabarem sobre mim aqueles sábados e domingos nunca mais com Ana, vinha a certeza de que, de repente, bem normal, alguém diria telefone-para-você e do outro lado da linha aquela voz conhecida diria sinto-falta-quero-voltar. Isso nunca aconteceu."
(Caio Fernando Abreu - Sem Ana, Blues.)
That's it. For today, at least.
Marquinhos.
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