明日を目指して

Apesar das minhas fragilidades, avanço.”- Lya Luft

sábado, 23 de outubro de 2010

~ Dama da Noite

"Já havia escurecido. As nuvens cinzas daquele dia quase-frio haviam dado espaço as nuvens negras da noite. As ruas iam pouco-a-pouco, deixando o ritmo agitado da semana para trás. Dando espaço ao leve andar das pessoas que saem de suas casas-ou-trabalho-ou-qualquer-lugar, pessoas que vagam pela noite em bonitos bares, com música ou sem, festas de todas os tipos ou, simplesmente, como eu, buscam analisar o andar da noite em busca de uma tranquilidade momentânea.
Depois de  horas numa reunião, em uma sala com uma mesa bem grande, cheia de pessoas discutindo estatísticas e análises disso-e-daquilo, resolvi que iria acompanhar minha vontade de "tranquilidade momentânea". Despedi-me de todos, peguei a pasta do trabalho e a bolsa a tira colo e fiz o caminho diária de volta. Fui ao metrô, ultrapassei algumas pessoas, cheguei à estação próxima do meu apartamento e deparei-me com as densas nuvens negras da noite que desabavam pesadas e várias, várias, gotas de uma chuva fria e longa- daquelas que entram pela noite e só terminam no dia seguinte.
Resolvi que que não iria comprar um guarda-chuva-de-dez-reais que vendem, misteriosamente, pelas estações de metrô. Decidi me libertar e levemente me posicionei em direção à rua e fui. Caminhando pela rua pude sentir as gotas penetrarem pelo meu cabelo, rosto, corpo inteiro, molhando toda, toda aquela roupa de mulher séria. Levantei a cabeça e olhei o céu. Deixei que a chuva invadisse meu corpo inteiro, penetrasse pela minha alma e limpasse toda a dor, todo o cansaço, que me libertasse de todo o peso. Peso da perda, que é seguido do peso da dor, que vem com o choro e o sentimento de culpa e depois com vontade de abandonar tudo, depois com aquelas vagas ideias de como-pude-deixar-que-ele-tão-pequeno-me-deixasse-. Seria realmente possível que a chuva limpasse todo o corpo e alma?Será?Logo cheguei em casa e fui recepcionada pelas crianças e marido. Perguntaram porque eu estava molhada e não havia ligado para que eles fosse de carro me buscar no metrô. Respondi apenas que queria sentir, mais uma vez, como era o gosto da chuva. Todos riram e avisaram que haviam decidido que iríamos jantar fora.
Voltando à realidade, coloquei a roupa, limpa pela chuva, na máquina de lavar, tomei um banho de alguns pequenos minutos, coloquei um vestido bonito, era roxo, alinhei meus olhos de nissei com uma maquiagem leve, cabelo soltou o preso?- questionei- Solto era melhor. Arrumei o filho e a filha que me contavam sobre o dia e suas brincadeiras de crianças. O marido me abraçou por trás sorrindo e dizendo baixo no idioma de nossas longas gerações- que as crianças ainda não entendiam bem- "eu te amo". Respondi, sinceramente, com reciprocidade. Mas a verdade é que queria voltar a ilusão de andar pela chuva, como a Dama da Noite, que vaga analisando os seres que vagam pela noite cheia-de-bares-e-lugares, protegendo-os. Porém não era possível. Não mais. Duvido, mas...quem sabe algum dia?"

marquinhos bueno.
contos.
escrito em 18/10/10

ao som de: andrew belle, open your eyes. 

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

~ 100

"O relógio transparente estava ao lado da tv e dizia que eram dez horas e alguns minutos daquela noite fria, chuvosa e cheia de ventos fortes na Paulicéia. Como de costume, ele chegou no horário que tínhamos marcado e trouxe algumas sacolas. Enquanto soltávamos várias risadas sinceras cheias de humor mesclado com amor, tomamos 2 garrafas de vinho e comemos bem. Ele contava do seu dia engraçado, das gafes que havia cometido por não falar português direito e eu ria como uma criança. Sempre de mãos dadas, rindo, olho-no-olho e taças bonitas cheias de bom vinho. Trocamos alguns beijos. Meus olhos não conseguiam focar em outra coisa senão seu belo rosto. Abrimos mais uma garrafa de vinho e deitamos no sofá. Ele esticou seu braço para eu deitar em seu ombro. Falávamos sobre as várias formas de expressar o amor. Fazíamos planos para o futuro. Eu disse: "Vamos ter três filhos. Os três vão falar japonês e português e tocar instrumentos musicais". Ele abriu um largo sorriso e continou: "Vão praticar esportes e participar de todas as atividades da Gakkai." E soltávamos várias risadas. Entre alguns beijos meu coração dizia que todos esses sonhos iam ser possíveis e que nós íamos realizar tudo isso, juntos, com nossa fé, com nosso amor verdadeiro. Nós falamos ao mesmo tempo um "Eu te amo" envergonhado e nos beijamos. E eu podia ver o futuro bem ali na nossa frente com todos esses planos se realizando. Ele pediu que eu fechasse a janela pois ventava muito e estava frio. Por mais que eu gostasse desse frio atendi seu pedido sem questionar. Levantei segurando minha taça, olhei para o céu escuro e  frio da Paulicéia, caíam várias gotas dessa escuridão. Permaneci assim por alguns minutos desejando com todo meu coração que toda essa felicidade não acabasse. Ele tomou ultimo gole de sua taça, encheu-a outra vez, levantou-se, me abraçou por trás e encheu minha taça novamente e disse baixinho "kore wa yume janai yo!(isto não é um sonho)tada, kimi wo aishiteru yo(eu simplesmente te amo)". Algumas bobas lágrimas escorriam pelo meu rosto. Apertei firmemente seu braço e pude sentir todo esse amor e sentimento. Deitamos de novo no sofá. Ele havia largado sua taça em algum lugar e eu segurava a minha na ponta do sofá. Assim ficamos alguns minutos, minutos tão maravilhosos e adormecemos. Minha mão não segurava mais a taça firmemente e com o passar do vento- seria vento do prazer?- deixei que ela caísse ao chão, estraçalhando-se em pequenos pedaços, deixando o líquido roxo que havia dentro dela entrar por todos os espaços do taco que cobrem o piso deste apartamento. Com o forte barulho do estraçalhar da taça, dei um pulo do sofá e despertei desesperado daquele leve e intenso sonho. Sentei na ponta do sofá e fiquei alguns minutos admirando os pedaços da taça que estavam pelo chão. Brilhavam como pedras preciosas. Abri a janela e deixei que todo aquele vento forte entrasse pela minha sala- seriam todos os oito ventos que tentam nos direcionar diariamente ou seria apenas o vento da solidão?- Observei a sala, vazia, com todo aquele vento forte e deparei-me com a realidade: com o cair da taça, acordei de mais um sonho. Recolhi os pedaços da taça do chão, limpei o resto do vinho que havia caído. Cobri-me com um casaco e sentei-me, novamente, na ponta do sofá e fiquei admirando a vista com um belo sorriso, sentindo o frio, analisando a chuva que caia livremente molhando todos os cantos desta cidade gigante que nos suga e nos prende. E ao passar, levemente, os dedos pelos meus olhos molhados de pequenas lágrimas bobas, sentenciei mais uma vez que tudo iria dar certo. E sem dúvidas irá, assim como sem dúvidas a chuva que se inicia fortemente logo se enfraquece e abre espaço no céu para que o lindo sol possa iluminar nosso dias. Desta forma também seria com meu sentimento. Logo a escuridão que gosto de sentir irá sumir e dará espaço para a luz cálida do amor. E poderei assim, então, dizer: yatto(finalmente!)." 
marquinhos bueno.
13/10/10
contos. 
Quem diria, este é meu primeiro blog que chega ao centésimo post. A princípio quis fazer um blog que contasse sobre minhas aventuras em SP, mas ele acabou se tornando um pequeno espaço de publicação de vários contos desta minha "pseudo-literatura". E fico tão feliz que este tenha durado tanto tempo e fico mais feliz com os comentários de todos. Obrigado!!!
- Ao som de: radiohead(true love waits), paramore(the only exception) e andrew belle(in my veins) -